16 de abr. de 2010

Eis um lado feminino para as coisas

Prazer, eu sou a Lua. Estou cansada de todas as suas lamentações dirigidas à minha imagem. No amor você é fracassado. Não, não se apaixone. Ela vai envelhecer e você vai odiar estar com ela. Veja, veja eu. Sempre da mesma forma. Sem luz própria mas sempre reluzente aos olhos apaixonados. Cansei, cansei de olhar casais enamorados embebidos pelo neblina de minhas luzes. Luzes que afinal não são minhas, outra decepção. Sozinha até agora eu estou.

Como toda donzela tenho fazes, sempre bem definidinhas. Veja como sou previsível. Vocês homens gostam de mulheres previsíveis?

Não me indique estrelas. Estrelas são casos perdidos, pó cósmico sem conteúdo algum. Pequenas e desastradas no amor, em sua maioria amantes que na Terra deixaram seus amados.

Interessa-me quem envia esta quentinha luz que me acalenta em frias noites dominadas por chatas estrelas. Quem a produz? Mulher ou homem? Ouvi rumores se um ser assexuado que sobe das montanhas quando me deito no orvalho da floresta.

Talvez seja homem, com toda aquela força que o faz levantar apesar de todas as más circunstâncias, ou mulher, com toda aquela beleza que encanta qualquer astro, toda aquela inveja que circunda nas redondezas de seus raios solares, inveja que vem dos irmãos e irmãs desprovidos de tão irradiante aparência. Como eu queria contemplar inveja em minha volta.

Descobri que a noite não é para tal ser. Logo voltei ao zero.

Acho que eu deveria ter um caso com o Lobisomem. Pois é ele quem aparece para mim, quando estou em minha mais fiel e exuberante forma. Redonda e poderosa. Teria interesse por mim?

Seria um namoro à distância. E geralmente não funciona.

Volto eu então a iluminar os casais nos bancos das praças. O rapaz vai olhar para a moça e vai exclamar o quão bonita eu estou esta noite. É um pretexto para o bote... Então um beijo será roubado.

Um beijo...

11 de abr. de 2010

(1) Bolhas borbulhando...

Quão bela é a lua em dia de escuro céu. Estrelas guiam o passear do casal nas proximidades da ponte. Ele olha para baixo, observando a água escura pelo esgoto doméstico. Borbulhar do metano... Borbulhar do metano... Olha para ela, para os pés. E se dá conta da beleza do calçado que ela escolhera esta noite... Ela, com aquela calça jeans amarela, característica individual.

Achava de extremamente bom gosto. Aquele amarelo reduzindo nos olhos dele. Acorda, e se encontra na realidade de quão bela é a lua em um dia de escuro céu nas proximidades de uma ponte. Borbulhar do metano, calça amarela e calçado de ótimo bom gosto. Já vira aquilo... Já vira aquilo...

Então lembrou do gosto do metano em sua face, como se tivesse nadado por alí aquela noite. E viu a si mesmo boiando na escura água, rodeado por bolhas, bolhas borbulhando.

Era uma segunda chance. Não fazer a mesma burrice...