12 de fev. de 2010

Primeiro as Damas

Flores negras para donzelas mortas. Seus beijos são reservados para os vermes e seus corpos são acariciados pelos insetos.  Dançam sobre as cabeças de seus prometidos, ao executarem a promessa de morte. Arrastam os amados para os túmulos, com seus vestidos de trapos velhos e lamacentos. E repousam nas tumbas atormentando as tristes famílias acima dos caixões de madeira. Caçam à noite e se escondem na penumbra das casas almadiçoadas pela morte. Ouve-se um grito agudo e...

Primeiro as Damas.

11 de fev. de 2010

Pássaros Cozidos

Chegou no quintal com a curiosidade de observar o clarão no céu. O risco de luz atravessou o céu como um raio em dia de temporal. E o logo o céu não era mais como ele conhecia. Observando... observando as plumas das aves que circundavam o céu. Desabaram cozidas no chão de sua casa. Correntes de ar levam bruscamente as telhas dos vizinhos, o cachorro da tia e tudo o que não tem força o suficiente para se aderir ao chão de maneira a não voar por aí. Os gritos dos pais e o apelo da irmã eram de pouco impacto comparado ao céu em chamas. O clarão vindo do céu torna-se nítido graças a pouca distância que se encontra do menino. E então, ele descobre o feixe de raios. E que se separam... e que se separam e se dirigem aos seus amados e condenados. Então observa os membros dilacerados em voo livre pelo seu quintal, as perninhas de sua irmã e as roupas da mamãe perambulando pela vizinhança. O cachorro da vizinha ficara esmagado embaixo do caminhão do Senhor Abelardo, sangue voando pelos ares. E os raios esquartejavam a vida humana que na sua frente passava. Os folhetos da pizzaria encobriam as árvores e logo o fogo consumiu tudo: folhetos, árvores, as perninhas da irmã. E as lágrimas voavam com o vento, acompanhados pelos raios provenientes do belíssimo céu e dos brinquedos das crianças. Seria os últimos que veria. As coisas começam a desprender do chão, como se estivessem fartas do chão e resolvessem voar. Todos sonham em voar, até ele sonhava. E ele inicia a decolagem, voa alto até encontrar o seu próprio raio. "Irmãzinha! Mamãe!". Fez-se o clarão e o fim do mundo dele. E então, tudo fica calmo como deveria ser.

(39) Há mal para o bem

Resolvera trabalhar em um manicômio como voluntário. Todo dia acordava de madrugada e pegava o primeiro ônibus que passava na frente de sua casa. Vestia o uniforme branco com perfeição, de maneira que o tecido não se amassasse em nenhum movimento enquanto se aprontava.

- Doutor? Doutor cadê minha cadela doutor? Minha cadelinha... ela estava aqui... onde ela foi?

Era o paciente do quarto 207, o qual imaginava ter uma cadela de estimação que não existia. John olhou para ele e com um sorriso sereno pediu que o acompanha-se - ele mostraria onde estaria a cadelinha.

Subiram as escadas que davam acesso aos quartos individuais, aqueles os quais os pacientes eram isolados quando sofriam de alguma crise muito violenta. Eles caminharam até o fim do corredor, em passos lentos. O paciente do 207 olhando para os lados, inquieto e atento aos latidos de sua cadela.

- Menina... vem menina!

De frente ao último quarto individual, aquele que se localizava no final do corredor, o paciente 207 cismou em avistar a cadelinha dentro do quarto.

- É ela doutor... é ela! Deixe-me entrar... deixe-me entrar!

- Com prazer...

John sorriu, mas logo seu rosto ficou sério e sombrio, como costumava ser normalmente. Abriu a porta do quarto e empurrou o paciente com um pontapé nas costas. O paciente gritava alto, porém por ali ninguém passava aquela hora. Portanto, ninguém ficaria incomodado com berros altos e irritantes. Mas John estava farto.

- Doutor! Minha cadelinha não está aqui! Deixa eu ir atrás dela? Não a machuque, Doutor!

Outro pontapé, desta vez na porta. Fechou-se bruscamente. Paredes estofadas e à prova de som encobriam todo o ambiente.

- Sua cadelinha morreu quando você tinha dez anos, Gambit - disse John ao paciente 207. - Você gostaria de encontra-la novamente?

- Sim! Sim! Sim!

- Certo!

Esta noite o pessoal da limpeza teria trabalho ao limpar a sujeira do quanto individual localizado ao final do corredor no último andar do Manicômio Augusto Diniz.

8 de fev. de 2010

(38) Como economizar com tintas

Os frascos, distribuídos em prateleiras de mogno, brilhavam quando a lanterna do capacete de John passava sobre eles. As luz revelava-se colorida em cada frasco. O feixe de luz passava e um show de luzes era revelado na parede do porão.

John trabalhava com sua lanterna, amarrada na cabeça, focada no cadáver. Tinha à sua direita o caderno de anotações, as quais indicavam as partes de onde cada cor deveria ser extraída. Sua esquerda era reservada para os frascos vazios que receberiam tintas frescas. Desviava de vez em quando o olhar para as prateleiras de mogno, com o intuito de refletir sobre o procedimento. Em uma mesinha por trás dele havia algumas substâncias em pequenos frascos, que só ele conhecia a procedência, as quais eram utilizadas junto com os fluidos corporais com o intuito de obter cores específicas.

O corpo do cadáver emitia barulhos estranhos provenientes dos gases da decomposição... alguns movimentos involuntários... cheiro forte de podridão. John protegia-se com roupas espessas, luvas e uma máscara bastante antiga, que não inibia o fedor mas protegia de algumas bactérias. Não importava, ele já havia feito aquilo dezenas de vezes e o mau cheiro já não o incomodava.

Não é preciso ter estômago forte ou algo parecido. Ele acreditava que tudo era questão de costume. Matar, cortar, brincar com órgãos. Você se acostuma com coisas más e acaba gostando. Infelizmente.

Na manhã seguinte acordou cedo. Foi ao Shopping e entrou na maior loja de pintura da cidade. Comprou uma tela enorme, que quase não passou pela porta da casa de Bárbara, sua generosa amiga, a qual permitia o privilégio do uso do porão para fins demasiadamente ilegais.

Desta vez ele pintaria com os dedos.

Pintura com cores mais vivas que esta a qual produziria? Impossível.   

7 de fev. de 2010

(37) Com quantos vermes se faz um cadáver?

No escuro do porão, enlameado por substâncias diversas, desenvolvia-se uma série de invertebrados. Percorriam o ambiente com pressa ao se depararem com estrondos provenientes no andar superior.

Em uma mesa de azulejos, descansava o corpo sem vida. Apodrecia e nutria os vermes.

Um clarão invade o ambiente. A porta se abre e John começa a descer a escada, cambaleando por estar cansado pela luta com sua última vítima. Aproximou-se do corpo na mesa e fungou profundamente o fedor proveniente da carcaça apodrecida, realmente era hora de trocar o material. Armou-se de uma pá e empurrou o cadáver para fora da mesa. Os vermes agitaram-se. Alguns fugiram do corpo e infestaram o ambiente, outros permaneceram na mesa e por lá ficaram por estarem gordos demais para se locomoverem pelo local.

Estrondos fortes nas escadas do porão. John arrastava um senhor obeso, o qual havia perdido todas as viceras. Entretanto ainda continuava extremamente volumoso e pesado. Já estava ofegante por arrastar todo aquele peso, mas felizmente já estava a poucos metros da mesa. Com a ajuda de um elevador hidráulico ele posicionou o corpo na mesa enquanto ouvia o estalo dos vermes, esmagados pelo demasiado peso do novo cadáver. Logo começou a trabalhar com os órgãos expostos do cadáver.

Um horrendo bichinho ficou entusiasmado com os novos nutrientes. Entrou por uma perfuração no braço e aproveitou enquanto pode até morrer breve graças à sua curta vida.