31 de out. de 2009

A Batalha

O soldado caiu. O ventou o dilacerou, a chuva o encharcou. 10 metros adiante seu companheiro acabara de sucumbir ao inimigo. Foi arrastado durante muito tempo, seu tecido foi dilacerado, suas cores cobertas de lama, virou lixo. Pisoteados, abandonados pelos donos. A função essencial não pode ser cumprida, a missão falhara. Agora são cadáveres no meio do lamaçal, o inimigo festeja encima deles, em seus tecidos, em suas armações. Mas o batalhão é grande, a guerra não acabou. Aguentem caros companheiros, precisamos de vocês.

30 de out. de 2009

É a vida! (7)

Havia matéria-prima fresca.
John Relik sentou ao redor de uma mesa estranhamente redonda e começou a contemplar a criatura em movimento. Observou o desenrolar da tragédia dos útlimos minutos de vida de Catharine.
- Hmmmm, aí não... aí não pode... virá para lá... vira para lá....
Ausentou-se por alguns minutos, fora pegar a sopa de beterraba que havia ficado pronta.
- Já volto, meu bem.
Voltou brevemente, sentou-se e cruzou as pernas.
- Para com isso, larga... larga...
A criatura revoltou-se, juntou as últimas forças não sei de onde e tentou atacar o jovem extremamente barbudo. Na luta desengonçada, o prato de sopa caí no chão. John berra histericamente enquanto Catharine fica encolhida em um canto da úmida sala.
- Meu jantar! Meu jantar! Eu até gostava de você!
Ele saiu correndo, os olhos esbugalhados e a cara demasiadamente vermelha. Algo de ruim iria acontecer.
- Sua cadela!
Voltou em poucos minutos, com uma espingarda na mão.
- Vem cá bichinho... vem cá!
Ainda procura, sem êxito.
- Aparece! Aparece, eu tô mandando!
Sentiu algo atravessar seu fígado. Sentiu dor, mas a sua raiva era mais forte.
- Vaca!
Golpeou baixo, tentando acertá-la. Não obteve êxito.
- Te pego, te pego!
Catharine encontrou outro espeto de churrasco, agora ela o atingira no pescoço.
John caí, jorrando sangue em sua sala de estar. Catharine corre, corre para longe. Haveria ela ganhado liberdade?

Anomalia Temporária

Aproveitando partes sobressalentes oriundas do chão, pulamos de pedra em pedra rumo ao outro lado do pequeno laguinho. A chuva caindo descaradamente, desde quando não lembro exatamente. Sapatos molhados ou pés enlamaçados - o que importa é chegar ao local de destino pelo menos com roupas pouco molhadas. Desviando de lagoas artificiais - parece chato mais é divertidíssimo. Visão aérea do desfile de guarda-chuvas monocromáticos ou multicromáticos, viajava eu. Aguaceiro sem vergonha - mas, no fundo, eu adoro esse tempinho. Olhar a chuva pela janela traz uma sensação um tanto nostálgica, é bom resgatar certas situações, mesmo que elas não sejam tão agradáveis. Gotículas de chuva indo de encontro às poças de água, formando círculos, quase que perfeitos, inscritos - a dinâmica formal da vida . Em que lugar a restrita fauna deste ambiente se abrigara? Onde realmente abriga o "eu mesmo" neste momento?
Concentração zero por cento. A chuva rouba atenção demais... então bate na portinhola da memória aquelas músicas estranhas, as quais você sente prazer em recordar, mas não sabe o porquê. Então você pensa em seus problemas e percebe que sua vida é uma droga, mas sempre existe o lado bom das coisas. O simples fato de você lembrar que em algum momento de sua curta vida algo fez sentido, faz com que você descubra que a vida é simplesmente é perfeita, não cabe a nós questioná-la - vamos simplesmente deixa-la nos engolir... sim, valeu a pena viver esse dia - nada é por acaso. Há algo sobrenatural reinando por aí...

28 de out. de 2009

Breve Texto

Quanto vale meu voto? Definitivamente não vale sal, tempero ou farinha. Tem um valor muito mais forte, muito além da fome ou da pobreza? Com meu voto serei eu mesmo, farei o que quiser... venderei minha liberdade em troca de medidas paliativas ou investirei na crença de "EU melhor" de "ELE melhor" - "NÓS melhores". A hora há de chegar...

É a vida! (6)

Acariciou lentamente o felino, procurando o ponto ideal.
- O ponto da morte lenta e sofrida.
Executou o planejado com muita técnica.
- Experiência.
Tirou a pele e fez uma touca tosca.
- Extremamente sexy, na minha opinião.
Foi à praia, observou os transeuntes. Contou até 7, jogou 7 pedrinhas, deu 7 pulinhos nas ondas... andou 7 passos de costas e virou. Apontou para a sétima pessoa que passou na sua frente.
- É esta!
Linda, maravilhosa. Simplesmente bela. Não poderia deixar de incrementar sua arte com aquela peça feminina.
- Preciso de um gato novo.
Seguiu-a. Olhou para os lados e para sua sorte não havia ninguém que pudesse impedir a ação espontânea.
- Corre aqui, bichinho.
Pegou pelos cabelos vermelhos e enfiou-a na mala. Ouviu-se o estalar de alguns ossos, dedos presos no lado de fora da mala da caminhonete.
- Quietinha, psssss!
Levou-a para o esconderijo. Fez o ritual de criação. Extraiu a pele e lançou sua nova coleção.

27 de out. de 2009

É a vida! (5)

Extremamente cético. Nunca acreditara em nada que lhe falassem - era preciso ver para crer. Ficou sabendo da morte de sua mãe. Não acreditara, obviamente. Então apareceu na sua casa de infância, naquele clima bucólico do interior alemão. Definitivamente era uma armadilha. Mamãe não estivera satisfeita com as atrocidades do filho e o traiu. Foi uma facada... Sim! Uma facada no peito do policial que o tentou agarrar. Mamãe chorou enquanto sangue jorrava no rosto de seu filhinho. Ele gostava - era sua arte. Chegara a hora da fuga. Obviamente que estava cercado. Pegou a mãe como refém e saiu correndo. Mamãe chorava e ele ria, é a vida. Alguns helicópteros o perseguindo? Ele havia passado por coisa pior. Não.. não o pegariam naquela tarde, na terra onde ele cresceu. Ele correndo com mamãe e mamãe chorando. Ele sabia onde se esconder, e sabia muito bem.
Avistou o açougue, entrou e se enfiou entre as peças de carne ensangüentadas, mamãe odiou. A polícia foi despistada, ele tinha sorte.. acreditava que estava destinado ao sucesso, à vida eterna - nada poderia detê-lo. Sua autoconfiança sempre o salvara.
Passada a adrenalina do momento, sua mãe berrava igual uma porca. Sim, ela era uma porca para ele. A mesma cuspiu em seu rosto, como um dia fizeram com ele. Segurou-se para não matá-la, ainda era sua mãe - infelizmente. Correu com a roupa bacanérrima, modelo pig-red, sua mais nova criação - praticamente um desfile de moda. A partir daquele dia decidiu ser um estilista - um artista da moda.

Canto inferior esquerdo

Canto inferior esquerdo: "Deus seja louvado". Olhei a nota de dois reais e confirmei: "Deus seja louvado". Deus seja louvado pois tenho uma nota de dois reais na mão, um privilégio. Deus seja louvado pois milhares de notas de dois reais estão grafadas com a frase "Deus seja louvado". Deus seja louvado pois estou entregando uma nota de dois reais para o menino de rua que vem pedir dinheiro aqui no sinal perto de casa. Deus seja louvado pois as demais notas dos mais diversos valores também transmitem a mensagem "Deus seja louvado". Deus seja louvado pois o assaltante roubou duzentos reais em notas, as quais também apresentam "Deus seja louvado". Deus seja louvado pois meu capitalismo é estampado com a grafia "Deus seja louvado". Deus seja louvado pois nem todo mundo tem acesso a nota que contém grafado "Deus seja louvado". Meu dinheirinho é religioso?

26 de out. de 2009

É a vida! (4)

Nunca se esperaria tanto talento de um ser humano, também denominado monstro.
- Pseudônimo.
O fundador de uma nova vanguarda artística um tanto esquizofrênica.
- Não quero créditos para tal ato sem precedentes históricos.
Perseguido, procurado, rastreado - era inexplicavelmente adorado, amado, idolatrado.
- Não há paz para um gênio da estética contemporânea.
Nunca pensara que um dia estaria no topo de uma lista mundialmente famosa, a lista dos mais procurados pelo FBI.
- É um grande avanço para quem começou como um genioso amador.
Escreveu um livro artístico que só ele mesmo lera.
- É uma literatura para públicos reservados.
É a vida!
- Concordo, adoro minha vidinha incomum.