26 de ago. de 2010

Não Obstante,

Entretanto, olhava para a vidraçaria no teto, quebrada. Todavia, ali por perto, meninas brincavam batendo as palmas das mãos e cantavam, coisa que me chamava mais atenção. Tempos remotos da infância, que todo dia era divertido e despreocupado.

Novamente desviando o olhar para a vidraçaria do teto, quebrada. Poucas pessoas notariam isso, conclui. Estéticamente detestável, como quatro bancos alternados por quatro lixeiras, em uma tentativa falha de formar um círculo no meio do ambiente. É um retângulo.

E pela vitrine da loja, vejo por ali alguns aparelhos de som, daqueles grandes de por na sala, e imagino quem compraria tal equipamento. Em um mundo em que toda música é MP e algum número, e que computadores portáteis são os toca-discos mais moderninhos, tal aparelho de som fica em uma grande desvantagem utilitária, grande e fixo. Mas são de um designer interessante, decoração... Terei um desses em minha casa, em breve, na sala de estar. As visitas olharão para ele e ficarão com inveja por não terem um. Um moderno mini system.

Perdidos nesses pensamentos, até achei-me inteligente por algum momento. Mas creio que pouca gente acharia incrível o que eu ando refletindo pelas ruas, pelos shoppings, pelas feiras, pela universidade... 

22 de ago. de 2010

A Basculante

Acordara assustado, com medo de sair. Sonhou estranhos fatos, acordou, pulando, e gritou. Nada vira igual, dolorosa realidade. Da janela avistou chover gente, montada nas gotas da chuva.

Não havia água em sua casa, apenas o zumbido da encanação vazia. Angústia lhe dava sede, e não podia matá-la. Angustiado demais em seus próprios pensamentos, supôs estar louco, e concluiu não estar. Era real em seus sonhos, como é real ao olhar pela sua janela. Apocalipse.

Preparou-se para o pior, o qual já conhecia. Tudo devidamente mapeado em seus sonhos. E no canto da parede ele se acomodou, com uma faca da cozinha em mãos. Palhaços vermelhos por ali passaram, sussurrando coisas abomináveis.

Agarrou a pequena foto da filha, e do coração jorrou sangue vermelho e vívido. A menina no corredor, e o pai no canto da parede. Lágrimas em ambos olhos, sangue no chão. Filhinha, vai dormir... Que papai já tá indo te cobrir.

Pela basculante, avistava-se chuva fina e serena.