29 de jan. de 2010

Canção Épica

Filho dos Astros. Concebido pelo céu negro, lar da solitária lua

Armadura de luz astral, estrelas unidas em tecido sem igual

Força. Como o sol que enfrenta a escuridão ao se levantar das elevadíssimas serras

Esperança. Como o luar que agracia a noite

Sua capa, um cometa de rabo glacial

Beleza. Como uma estrela extremamente brilhante isolada na imensidão do firmamento negro

Surpresa. Como a lua que se esconde atrás das nuvens, que logo surpreende os olhares alheios

Escudo de Vulcano, Deus excepcional

Machado moldado nos anéis de Saturno, gelo e rocha

Coração dual

Como dia e noite

Sol e Lua

Amantes que nunca se encontram

27 de jan. de 2010

(34) Penumbra...

Casa na penumbra pois jazia todas as cortinas fechadas nos cômodos da casa. Penumbra que desconhecia o amanhecer e não contemplava a luz matinal, afinal não seria mais a mesma ao fazer isso. Seria algo além de penumbra, algo mais claro, visível e leve.

A penumbra era quebrada na sala, porta escancarada e sombra do homem estranho na entrada. O revolver parecia ter presença demasiadamente marcante na dança das sombras do chão. Sombra da mulher, do homem e reinante e poderosa: sombra do revolver. Algumas partes sobrepostas, outras bem nítidas.

A pequena janela um pouco acima da escada fazia possível a cena refletida no chão. Mas a agonia é relevante na paisagem colorida.

Passos na escada.

- Posso ajudar? - disse John.

- Sim! Dinheiro e jóias! Rapidinho! Vamos!... - disse o homem, com pressa e olhando para trás com frequencia.

Pensou: mais um para atrasar! Malditos casais de classe média...

- Não se apresse - disse John. - Não o atrasaremos - completou.

O homem olhou para o rosto de John, achando uma coincidência as palavras proferidas pelo rapaz. Gritou com voz agressiva:

- Anda logo! Jóias! Dinheiro! Aqui na sacola!

Jogou a sacola para Bárbara. Ela não a segurou, estava apavorada. Porém, talvez em um ato de reflexo, agarrou o abajur e tentou arremessá-lo contra o ladrão, mas parou ao ouvir o assobio que John proferiu.

- Não faça isso pequena, não queremos sangue inadequado - disse sorrindo com um cara de deboche. Então aquela alma sanguinária baixou em seu corpo possuindo sua personalidade. Batimentos mais fortes, sangue rápido, temperatura corporal subindo, reflexos surpreendentes. Olhos vermelhos, agilidade.

- Jesus! - disse o ladrão.

Bárbara continuava imóvel, olhando para o chão, apavorada.

- "Bienvenue"! - sussurrou alguém na escada.

Corrente de ar passando nos pés de Bárbara, lágrimas secando em seus pés. Mãos encolhidas na barriga, cabisbaixa. Suor em seu rosto. Pensou: não quero morrer. Vento proveniente da cozinha agracia seu rosto suado. Frescor e alívio. John não deixaria mal algum atingi-la.

25 de jan. de 2010

É a vida! (33) - Por gentileza

O movimento sempre começa de fora para dentro. Primeiro vem o jornaleiro, ziguezagueando os canteiros, atencioso nas numerações das residências, arremessando o noticiário do dia passado. Pontaria má. Seria despedido naquela tarde graças à reclamações de assinantes que não tinham acesso aos seus jornais por estarem no telhado de suas casas ou nas árvores dos quintais da vizinhança.

Segundo o cachorro. Ele acorda sentindo a corrente de ar deixada pela bicicleta do jornaleiro. Preguiça demais para correr atrás. Deita-se novamente, sem adormecer. Observa os passarinhos e escuta atentamente a cantiga matinal das aves. Mais tarde, abocanharia uma delas e se deliciaria com as viceras.

Terceiro, John. Acorda calmamente. Checa a hora em seu relógio de pulso. Arruma a cama e abre as cortinas. Escolhe minuciosamente a roupa que usaria durante o dia, atentando-se se haveria alguma mancha ou amassado nos tecidos. Espia pela janela por um momento, mas logo volta ao armário.

Bárbara acordava junto, no quarto ao lado. Espiava ele pela brecha da porta. Pensava no porque de deixar um homem estranho morar com ela. Por que não chamou a polícia, gritou ou expulsou-o à tapas. Simplesmente sentia atração. Tratava-se de algo mágico, droga viciante. Talvez sentisse afeição por ele, talvez medo. Na verdade, estava contente em não estar morando mais sozinha.

Ele era como um predador astuto, dotado de um nectar fatal. Atraia a todos e depois...

- Bárbara, poderia aprontar meu lanche, por gentileza? - disse John, surpreendendo-a enquanto ela o espiava.

Ela desceu as escadas pronta para servir seu hospede. Tão educado. Sentiu vento em seu rosto e avistou a porta aberta. Olhou em volta ainda não totalmente assustada, agarrando firmemente um abajur de uma escrivaninha próxima, em um ato de defesa.

- Deixe isso ai madame! - disse alguém.

O homem com o revolver aproximava-se sem medo e ela se desesperava a cada passo do sujeito em sua direção. Não conseguia mover sua mão de tanto pânico. O homem percebeu e sorriu. "Essa vai ser moleza!".

Passos na escada.