12 de dez. de 2009

Comentário (2)

Agora que as aulas se foram talvez eu encontre aqui a unica maneira de escrever algo produtivo. Começarei a organizar as idéias, já tenho até alguns planos. Não posso deixar a preguiça invadir meu cérebro durante as férias, isso não seria bom... Organizarei alguma leitura, ler é bom e agora o tempo está sobrando em demasia. Também postarei algumas coisas que produzi em aula, nada de boa qualidade...

Enfim, com mais tempo para pensar coisas terríveis serão escritas por aqui. Adoro escrever coisas terríveis.

Delírios em papel de pão



O homem é alimentado pelas sobras. Ele senta na pedra do centro de sua caverninha, olha a parede iluminada pelas brasas, as quais horas atrás eram uma tosca fogueirinha. É cômodo ficar ali sentado olhando aquelas formas relativamente simples, pouco detalhadas, às vezes difusas, mas ainda confortáveis. Virar para trás e enxegar a exuberância da realidade é quase um suicídio mental, enfrentar as feras da vida requer coragem e disciplina - é mais fácil contemplar as sombras e apreciar o ócio mental.



Mas o homem um dia tem que sair para caçar, morrer de fome não é algo desejável! Então, ele faz um ritual minucioso de preparação, ou não faz nada, para testar a sorte. O importante é passar o menor de tempo possível lá fora, o ambiente é ganancioso. Existem feras, precipícios, armadilhas e tribos inimigas à espera de uma vítima.


Vai o homem, reza para voltar. A fé é fé quando há necessidade de fé. Há necessidade de fé quando há medo. A maioria volta com a caça, o bastante para passar muito tempo contemplando as sombras. Uns são devorados pela realidade do lado de fora, outros aprendem a importância de conhecer o mundo exterior, vencem o medo e aprendem os vícios e alegrias proporcionados pelo mundo multicolorido da vida por trás das sombras.    

9 de dez. de 2009

Mortos no Living?

O cheiro pouco agradável de carne podre é o cartão de boas vindas para o senhor que acorda. Manhã linda, a qual era sentida estranhamente pela pele, indevidamente sensível a meios terrenos, esbanjava claridade reveladora que quebrava o clima maquiavélico. Onipresença penetrante em todos os cômodos do estabelecimento, sentidos fundidos em uma só alma confusamente entrelaçada por diversos lapsos memoriais. A menina parcialmente desnuda ainda chora no canto mofado do banheiro dos fundos, sinestesia de sangue com cor-de-rosa. Jaz a corda, muda e extravagante, em seu ponto estratégicamente armado para uma morte sem escapatória, não muito rápida, mas decidida.

Indagam ainda as cadeiras que presenciaram o ato depravador, cederam, involuntariamente, o lugar ao clímax fulminante do ato proibido. As demais testemunhas preferiram permanecer em silêncio, como sempre fizeram durante suas vidas utilizáveis.

Finalmente depara-se com o corpo. Familiar, sem vida, branco, inchado. Tosco. Sensação alguma tomou a alma recém libertada, parece não se importar com o passado pesado, peso tem de ser esquecido. Não entendia? Lembrou de conversas sem sentido, olhou para a menina do banheiro. Ainda chorava, desnuda, moralmente morta.

Papai? O grito da corda que vinga a criança. O lamentar das cadeiras e o cochichar das paredes.




Dedicado a Miguel Marvilla, cujo livro, Os Mortos Estão no Living, é fascinante. 


7 de dez. de 2009

Earth? (6)

Quando uma situação está suficientemente crítica ela tende a piorar um tanto mais para que haja uma solução possível. Quando se há pessoas pobres não basta pobreza, é preciso extrema miséria para que algo mude, seja através do bom senso dos governantes, da pressão da estúpida classe média, ou da revolução dos renegados. A vida nunca fora boa com os miseráveis, não seria agora que isso mudaria; repentinamente não, talvez.

Animais tem de ser adestrados, funciona da mesma maneira com pobres desesperançados. Quando a lenda surge tudo fica mais fácil. Oh! Ele vai nos salvar! Serviremos a ele! Lutaremos a seu lado! Oh, de-me esta honra, senhor! A partir daí é só adestrar, como um cachorrinho de circo. Tome, isto é uma arma, atira assim, nunca faça isso, aja assim em tal situação, este é seu inimigo, etc... etc...

O homem é um animal, mas existem outros menos animais, mais racionais que os demais. Estes se destacam e controlam a prole ignorante.

6 de dez. de 2009

Comentário

Existe uma dualidade persistente e arrogante que divide nossas intenções, vontade versus regras. Tudo aquilo que desejo fazer é confrontado com o livro das leis sociais. Isso é bom e necessário mas confesso estar preocupado, estamos perdendo gênios por limitarem nossa capacidade de ação. É um mau necessário? Enfim, este comentário sem sentido e curtíssimo era o que eu queria registrar neste memento.