8 de set. de 2011

Ao contrário do que se pensa

Ao pé de uma grande montanha amaldiçoada, jaz uma pequena cidadela de pessoas estagnadas em seus interesses de viver e morrer, numa rotina prazerosamente calma e controlável.

De tempos em tempos, de maneira rápida e não esperada, passa o senhor carteiro da cidade do outro lado da montanha. Esse esperado com o desprezar das pessoas.

A notícia era nenhuma. Pois na outra cidade nada acontecia, nada que poderia mudar o rumo da cidadela. Portanto, era rotina temer a chegada do senhor carteiro, mas era certeza não encontrar o indesejável.

Durante anos, jovens, insatisfeitos com a estagnação da cidadela e em busca de algo novo, desbravaram a misteriosa montanha amaldiçoada. Tal ambiente provia uma névoa densa que não permitia visão alguma. Portanto, amaldiçoada por assim dizer as pessoas mais velhas, sábias e mandantes. Assim, uma cultura baseada em mitos. E os jovens partiam e não voltavam. Na outra cidade nunca chegaram ou por perto foram avistados. Assim foi por muito tempo.

Certo dia correram boatos sobre uma nova cidade no topo da montanha, esclarecida sobre as coisas por poder observar com privilégio. No local a névoa era inexistente, como se lá embaixo ela fosse exclusivamente proposital.

Desta vez o carteiro chegou breve, trazendo notícias sobre a cidade no alto da montanha. Esta detentora de conquistas quanto ao esclarecimento das populações. Imediatamente, o velho carteiro foi acusado de bruxaria e queimado. As moradias foram abandonadas e as pessoas rumaram para longe da montanha.

5 de set. de 2011

Na ponte que cruza o arco-íris, lá reside o ouro

Encontrei pessoas em passos vagarosos, esbarrei em algumas e, após mencionar desculpas, fui ignorado e segui andando. Ganhei alguns goles de intriga momentânea e conclusões através de uma indigestão rotineira.

Encarei indivíduos com celulares em mãos. Percebi não estar exatamente encarando haja vista a ausência do cruzamento entre olhares, pois, não sendo o ato reconhecido e documentado, ele não existe. Depois peguei-me mergulhado em meu  próprio aparelho. Por  demais assustado e pensativo, confinei-o ao bolso e andei para um lugar qualquer.

Caminhando, aderi ao fato de que desisti de acreditar na pontualidade. Parece que ser pontual tornou-se anormalidade e, mesmo assim, acho que permanecerei na anormalidade.

Mais tarde, passaram pelos meus ouvidos uma variedade de quatro assuntos, os mesmos de duas semanas atrás, talvez dos últimos dois meses. Então bocejei e lembrei que o faço bastante atualmente. Concluí não estar cansado, relembrando minha boa noite de sono, e algo mais.

Acho que hoje, quase que certo, contarei os carros que passarão pela terceira ponte após às onze da noite. Será estranhamente estimulante. Estímulo que pretendo usar, assim desejo, para encontrar palavras menos desgostosas acerca do mundo.