4 de jun. de 2010

Intimista

Ela tinha acabar. Pois toda aquela magia, aquela vontade, aquele carinho se foi. Foi consumido, devorado, trucidado. Alguém passou e levou, carregou, roubou. Nossas asas foram cortadas, queimadas, incendiadas.

Ela se estendeu por um grande tempo; horas banais, minutos estúpidos, segundos mortos. Um grande comodismo: uma fachada em desmoronamento. Certas coisas são cansativas, consumistas, egoístas. Consome a vitalidade, o feeling do amor. 

Dela, só um amava.

Então o que entra em cena é a desilusão. O teatro está lotado de ninguém. Dos dois atores principais, só há um em cena. O outro fugiu da finalidade da peça da vida. As colunas estão escoradas pelas mão de um só. Caí, pois não há o sustento dual, forte e excitante.

Sua boca calada, mãos impedindo a visão. O melhor é deixar o concreto desabar sobre o corpo. É chegada a hora de alguém puxar seu corpo de todo esse peso sobre você. Mas certas coisas são pesadas demais.

Você se considera um monstro. Pois aquela palavra que nos faz humanos parece ter morrido. Mas sempre resta vestígios, como pó de madeira em uma serralheria, pó de minério da siderúrgica, pó de sílica da pedreira. Do que é mal, surgirá o que é bom. E das sobras se erguerá um novo reinado, o reinado que nos faz humanos.

Não me tornarei um monstro. Hoje não.

2 de jun. de 2010

Dia frio

Nuvens de esperança cobrem o céu. Encobrindo cada cantinho, antes cor de anil. Chove decepção, finíssima e constante. E, ao cair, embebe-se de um ar envenenado de insatisfação. Cresce com o cair, une-se ao próprio ele. É uma não tão grande gota de decepção. Encharca a terra, já previamente molhada pelo desespero. Então o monstro é semeado, o mostro da desesperança. Alimenta-se do anil, do azul e do sol.

O sol morreu na semana passada, de desilusão. Apagou com o sopro da amargura. Nem a lua quis assumir seu lugar. Onde havia sol, há agora escuridão plena, escuridão desesperadora. Oferta recusada. Senhora lua preferiu dormir na terra, apodrecendo e engolindo minhocas.