14 de nov. de 2009

Assasinos!

A formiga andava sobre a casca de árvore apodrecida, desviava das superfícies sobressalentes e dos fungos. Seus sentidos incomuns, porém extremamente eficientes, detectaram a aproximação da grotesca massa humana. A pequenina se abrigou dentro dos canais da madeira que um dia foi árvore. Insucesso. A casca foi arremessada igual bolinha de papel e voou que nem passarinho. A formiguinha escapou por pouco, correu e se deparou com uma chuva que começara a cair alguns minutos antes. Ela sentia a aproximação do perigo e seu corpinho começou a sentir a tensão da possibilidade da morte. Vida curta, morte rápida. Porém, ela não se entregaria tão breve... Lutaria por mais algum tempo de vida. Desviava das poças, das folhas e do chão irregular; sentia algo tentando esmaga-la, mas sem sucesso. Avistou o formigueiro e suas amigas, todas vermelhinhas e miudinhas, correndo em direção ao orifício que dava acesso ao formigueiro. Pobre formiguinha, morreu antes de alcançar as amigas.

Dois dedos esmagaram seu corpinho, agora resumido em uma massa indefinida. Foi devorada por uma boca pequena e banguela.

O bebê foi agarrado pela mãe, a qual correu para dentro da casa com o intuito de abrigar-se da chuva.

É a vida! (16)

Manchas nas paredes revelavam infinitas histórias de torturas e esquartejamentos. A equipe cinco andava no labirinto subterrâneo, terra de um psicopata e de sua companheira.

Os ratos rodopiavam no chão encardido e as baratas voavam de lá para cá, agitados com a presença humana. No ambiente incomum, caixas tornavam a paisagem macabra. O que elas poderiam conter? O Comandante resolveu a questão:

- Safado!

Disfarces, identidades, passaportes e ferramentas diversas. John era realmente bom.

Não muito longe, os proprietários do estabelecimento caminhavam  tranquilamente nos túneis em direção ao alçapão que os levariam para a casa do vizinho da frente.

O gato preto pulou em cima do capo do carro da polícia. Logo foi expulso a tapas pelo policial o qual fez um comentário dirigido ao seu companheiro ao lado:

- O Comandante estará morto em breve.

A noite não tinha estrelas e nem lua, a tarja preta extremamente negra decorava o céu com nada.

13 de nov. de 2009

Momento Filosófico (3)

E durante a aula de TPJ...

"Traz-me paz observar a dança singular da árvore, com suas folhas e galhos em um movimento sincronizado com o vento. Prefiro isso a certas teorias antrópicas."

12 de nov. de 2009

É a vida! (15)

Sirenes ao longe sinalizavam a gravidade da situação.

O serial killer, internacionalmente conhecido como O Ladrão de Corpos, estava cercado em seu estabelecimento, mais precisamente denominado esconderijo, pouco óbvio. A Imprensa internacional cercou as redondezas, era impedida  de avançar para arrancar informações sobre a operação em andamento. Jornalistas caiam no chão em consequência das cotoveladas e pontapés dos policias os quais cercavam a tenda de operações.

Com uma equipe desaparecida o Comandante começou a se desesperar, sabia que estava lidando com um ser humano com insinuações divinas. Ninguém conseguira parar esse doido, seria sorte ou algo sobrenatural?  Essas teorias dançavam na cabeça do Comandante até o momento em que ele foi interrompido pelo seu ajudante:

- Senhor, perdemos a equipe 2!

John estava vestindo sua roupa de guerra fresquinha, uma mistura de sangue e tripas humanas. Linda andava sempre ao seu lado, com os olhos arregalados e as mãos acariciando o ventre já pontiagudo.

A equipe 3 avançava cautelosamente sobre o chão de madeira da casa demasiadamente velha e esburacada. Do lado de fora, a casinha de madeira bem vagabunda parecia uma casa tão pequenina, mas por dentro e em direção ao centro da terra se revelavam grandes passagens subterrâneas, uma das quais davam acesso ao porão de artes de John.

John sempre esteve a frente do inimigo, melhor dizendo: atrás. A equipe 3 composta por 5 membros foi perdendo 1 a 1 de seus componentes:

- Garra-01 responda!

- . . .

- Garra-02 responda!

- . . .

...

- Comandante, perdemos a equipe 3, 00-Garra-de-Felino!

- Envie a equipe 4!

- Senhor? Não existe equipe 4!

- Envie a 5!

- Senhor, com todo o respeito! não temos mais equipes!

- Errado, sargento! Eu e você constituímos a equipe 5, 60-Fim-de-Papo!

Na casa em frente à casinha de madeira, um baixinho observava o movimento pela janela cor de laranja.



11 de nov. de 2009

Três contos que eu lhe conto e você o que me conta?

O rapaz ofereceu propositalmente o chocolate para a moça, ela mordeu um pedacinho e devolveu o restante. O garoto abocanhou o restante do alimento tentando extrair um pouco do mel ainda latente na superfície escurecida e babada do doce.

O aluno entrou na sala e sentou próximo da janela. Olhou em volta e percebeu algo que poucos perceberiam, uma bem-vinda viajem em sua imaginação o fez enxergar além. A superfície da janela envidraçada e forrada com um fundo preto era um espelho para a realidade próxima, um espelho o qual o transformara em um observador invisível. Observava a menina bonita, o pessoal conversando, as sacanagens da galera... tudo sem ser descoberto, reflexos da realidade. Parecia também um doido olhando uma janela forrada de negro...

A menina bonitinha sentou triunfante naquele lugar reservado para o dono da casa, olhou para as amigas e deu um sorrisinho de satisfação.

10 de nov. de 2009

É a vida! (14)

Uma belíssima coruja aterrissou no orelhão, atenta ao ambiente noturno.

Silêncio absoluto em volta da humilde casa amarela na Rua dos Coqueiros, número 298. O cachorro sentiu a vibração estranha no ar, latiu algumas vezes mas logo se deu conta que iria se dar muito mal. O agente do FBI silenciou o pobre animal que agora jazia no chão, sem vestígio de vida canina. O agente deu o sinal, as equipes avançaram com tamanha destreza que não se sentia nem a vibração do ar por onde passavam.

John já estava careca em sentir cheiro de sujeira. Mas nessa noite a equipe era profissional demais, daquelas muito bem treinadas e acima de tudo: muito bem pagas. Ele percebeu a sujeira tarde demais, mas não tarde o suficiente para conseguir fugir - teria de usar suas habilidades animalescas para se safar da empreitada.

Linda acordou assustada com o arrombamento da porta da casa, John nem ligou - estava preparado para a guerra.

- Não saia de trás de mim!

Munido de um canivete e de duas facas de cozinha, ele calculou a rota de fuga e se preparou para extirpar os obstáculos de sua frente.

Seria uma fuga como nunca efetuara antes...

- FBI! Você está cercado!

- E você liquidado...

Em um movimento de Caratê meio Kung Fu, John facilmente atirou longe a arma do agente e o estrangulou com suas próprias e poderosas mãos. Quem tentou impedi-lo acabou com uma faca estratégicamente alojada no pescoço de onde jorrava rios de sangue.

Linda sabia que estava em boas mãos, assassino mais profissional que John era raridade.

A casa ainda se encontrava cercada, do lado de fora o comandante tentava contato com a equipe 27-06-Cabeça-de-Formiguinha, a qual decorava a cozinha de Linda, em vermelho-vivo.

A coruja observava de longe a movimentação na Rua dos Coqueiros. Logo se interessou por outro assunto e alçou vôo na direção oposta ao espetáculo.

Parasita do Tempo e do Espaço

Observei em volta e cheguei a uma cruel e realista conclusão: eu só veria aquela paisagem uma vez na minha curtíssima vida. Imediatamente uma angústia tomou conta da minha alma e, dentro do carro com um movimento retilíneo uniformemente variável bastante considerável, comecei a tentar assimilar alguns detalhes daquele ambiente particular. "Como é tão diferente de onde eu vivo, nunca havia visto algo assim - sinto uma paz interior". Cada lugar é tão particular, neles acontecem coisas tão diferentes e igualmente interessantes. Queria ser onipresente, vivenciar tudo e com todos... Vivo na angústia de não poder apreciar tudo, de não conhecer todos os lugares. Morrerei com essa angústia, essa é a verdade que já aceitei e que já corroeu toda minha alma. Aproveitar o momento que eu posso viver, aqui e agora, é o mínimo e o máximo possível, sugar o máximo de tudo o que acontece comigo... Sim! Farei isso! Parece-me bastante sensato.

8 de nov. de 2009

É a vida! (13)

O pássaro parou em cima do recheado, mergulhou seu bico na água. Deu um mergulho, procurou algo para comer. Após o insucesso retornou à superfície. Sacudiu o corpo com o intuito de expulsar a água de suas penas impermeáveis. Efetuou um brusco e gracioso vôo.


John procurou Linda em vão. Ficou furioso por não satisfazer seu desejo, o jeito era se ocupar novamente com seu trabalho.

A menina ruiva retornou. Seu rosto de 17 anos expressava profunda melancolia, estava desnorteada com os caminhos os quais seguia em sua vida. John ouviu passos acima de sua cabeça. Logo um sorrisinho maligno tomou conta de sua face. Parou o trabalho e foi lavar as mãos, passou a mão no cabelo tentando arrumá-lo. Era mais bonito quando não fazia essas coisas.

Linda encarou John seriamente. Ele percebeu que algo estava errado mas não ligou a mínima para o fato. Foi logo agarrando a moça.

- Estou grávida!

Ele já havia tido filhos antes, mas agora era diferente. Ela não era sua mulher, era uma vagabunda qualquer e o melhor de tudo: cheia da grana. Não sentia nada por aquela criatura ou agora: das criaturas. Mais era prudente, precisava da fortuna da patrícia. Simplesmente não disse nada, suspirou fortemente e desceu as escadas do porão. Trancou a porta e sofreu um ataque de risos, ria dos caminhos do destino.

Linda entendeu que ele ficara feliz, coitada.


O pássaro cruzou a ponte calmamente, mirando a vasta maré. Estava com fome, queria comer. Avistou a presa porém teve outro insucesso. Contentou-se com as migalhas de biscoito da vovó, na pracinha do centro.

É a vida! (12)

O porão fedia mais que banheiro de posto de BR 101 abandonado. Cada dia chegava mais e mais matéria orgânica e naquele lugar mal cheiroso o artista concebia sua arte.

Era quase noite, o sol adormecia entre as nuvens do horizonte azul-celeste. A garota de cabelos vermelhos observava os navios cortarem o mar, deixando rastros de espuma. Deu uma olhada para as redondezas, constatou que só ela apreciava o entorno da ponte mais alta da cidade. Pensou no que sua vida se transformara graças a uma paixão por alguém que não a corresponderia algum dia. Pensou, repensou, não queria pensar mais. Olhou para baixo e teve uma idéia de desespero. Gritou para os moluscos nas pedras ponteagudas embaixo da ponte:

- Mamãe! Papai! O que eu fiz?

Subiu no balaústre e sentiu a corrente de ar passar em seu corpo, contornar sua silhueta, refrescar sua macia e demasiadamente esbranquiçada pele. Estendeu os braços para as laterais e inclinou a cabeça para cima, abriu a boca tentando engolir o vento, pensou nos seus objetivos e não concluiu nada. Uma moça rica apaixonada por um doido, uma tola caidinha por um asno.

- Mamãe, Papai...

Concluiu que errara durante toda sua vida, largara tudo por amar um assassino. Talvez fosse pior que ele?

Olhou para baixo e apreciou as pontas dos rochedos. Riu de si mesma e relenbrou os momentos com Jonh... Oh... John... Onde estaria? O que faria agora? Provavelmente trancado naquele porão com mais um cadáver...

Passou a mão em seu ventre, cheio de vida nova. Pularia? Sacrificaria duas vidas... uma a qual não teria a oportunidade de saborear a complexidade de viver.

- Filhinho...

Não muito longe dali, John cansou de trabalhar no cadáver e foi procurar Linda com o intuito de saborear a moça.