6 de nov. de 2009

A Árvore da Vida



Cortaram-lhe o fluído vital.


Cortaram-lhe o que lhe mais era prazeroso. Definhou, as folhas desabaram tão breve quanto vida bacteriana. As flores perderam o desfile multicolorido, tornaram-se monocromáticas peças de órgãos reprodutores. Os galhos ficaram ao relento, sentia frio, sentia-se inseguro. Os animas que sempre ali passavam não mais tinham interesse algum por aquele gigante seco, amarronzado e sem graça. Enfim, não ficou só - tinha a companhia de seus cupins. Esperou pacientemente pela próxima oportunidade de apreciar a verdadeira vida, a qual experimentara algum tempo atrás. Esperou por meses. O tempo haveria de encontrar algo para curar seus órgãos definhados. A seiva passava com dificuldade, faltava-lhe fluidez. Parecia morrer, parecia desistir de experimentar novamente aquela energia revitalizadora.


Caiu do céu o primeiro sinal de esperança: gotículas de água refrescaram seu corpo deformado, lavaram as impurezas. O ventou começou a soprar em seu favor, trazendo os nutrientes tão esperados em suas correntes de ar. Ele sentiu o amor de viver novamente, espetáculo da renovação. Sentiu a força voltando às raízes, soergueu-se. A fluidez voltara à sua seiva, as folhas nasceram desfrutando um mel inegualável. Restabeleceu-se, uma esplêndida e frondosa árvore.


Encontrou novamente o que lhe haviam tirado.


Multitextual.blogspot no Google

Já que ninguém além de mim frequenta este ambiente e como todo e bom internauta faz, fiquei tentado em saber o que o todo-poderoso-e-sábio-Google acha do meu blog (risos).


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Momento Filosófico (2)





"Por que compartilhar a dúvida? Ela é minha."





(Citação efetuada durante o intervalo da aula de TPJ)






5 de nov. de 2009

É a vida! (11)

Reinava no jardim um silêncio merecedor de melhor Oscar. Yasmin se preparava para sua dormida habitual, em sua cama  estranhamente personalizada. O silêncio fora quebrado por passos macrabos, estilo botina de chuva tamanho 46. A cabeça de Yasmin tentou espiar lá fora, mas o restante do corpo resistiu a perigosa tentação.

Como todo bom cidadão assustado com coisas estranhas desenrolando em sua vizinhança, Yasmin fora ligar para a polícia local. Em vão, telefone mudo. Poucos minutos depois a energia elétrica ficou no passado, escuro absoluto.

Não, Yasmin, não se desespere. Corra para a saída em busca de socorro. Grite por ajuda.

Na escuridão absoluta, cortada apenas pela pouca iluminação proporcionada por uma belíssima lua cheia, Yasmin começou a caminhar em direção à porta. Chegou ao destino, porém ficou extremamente intrigada por encontrar a porta trancada.

- Mas eu não tranquei a porta...

John já estava no domínio da situação, o show já havia começado. Carregando sua maleta, suas toscas ferramentas, começou a executar o plano.

Yasmin encontrou seu gatinho, foi acariciá-lo em busca de um consolo - afinal era apenas ele e ela dentro da casa, que parecia isolada da realidade exterior. Passou a mão no felino, sentiu-se mais calma - ela não estava sozinha.

- Graças a deus, tenho você, Bobby!

O cabelo a incomodava. Yasmin passou a mão no rosto, buscando uma solução para o cabelo que incomodava seus olhos. Sentiu algo estranho, um líquido estranhamente quente. Definitivamente não era xixi de gato... não.

Finalmente Yasmin encontrou as lanternas que estavam muito bem guardadas. Aquela líquido pegajoso ainda incomodava bastante sua face. Resolveu ir atrás de um espelho. Péssima idéia... sangue de Bobby decorava seu rosto.

O pânico foi instantâneo. Era o sinal para John entrar em ação, tudo fora planejado pelo mesmo. A atriz estava pronta e devidamente maquiada para a cena, a cena principal de seu filme. Além de pânico real, sangue de verdade era requerido, sangue de gatinho era fraco demais. Isso não era problema para John. Com uma câmera portátil na mão, ele sacou a faca e pulou em Yasmin, foi  divertido. Minutos depois tudo estava decorado de vermelho. Estava tudo concluído, o cenário, o cadáver, a cena.

Linda olhava para a belíssima lua, não muito longe dali. Em um carro vermelho ela esperava o regresso de John e seu filme maluco.

Lua vermelha...

4 de nov. de 2009

É a vida (10)

Cheiro de formol, umidade e fiascos de luz entrando pela porta extremamente esburacada. Era a festa dos insetos. Nos corpos, já há muito tempo sem vida, fervilhava nova vida microscópica. O fim de uma vida é a vida para outros.

John melhorara consideravelmente de sua enfermidade. Pensara muito e muito em como trabalhar o corpo de Catharine, afinal ela merecia tratamento exemplar. Então assim ele fez: no centro de seu porão ele colocou o corpo que já apresentava avançado estado de decomposição. Trabalhou durante dias e usou diversos produtos os quais nem ele mesmo conhecia de nome. Assim Catharine virou imortal, fardada a permanecer eternamente no centro de todo o sofrimento latente no porão da casa de John e Linda.

Linda sentira ciúmes devido ao grande tempo dedicado por John para com Catharine, ou o que restara dela. Ela não gostava de pensar nisso, lhe vinha coisas horríveis em mente.

- Já terminou com este presunto?

- Isto requer dedicação...

- Dedicação nada! Que atrocidades você anda fazendo aí embaixo?

- Arte.

- Desse jeito? É o fim!

Sem prestar muita atenção ao conteúdo da conversa, John finalizou demonstrando já estar aborrecido:

- O fim de uma vida é a vida para outros!

Linda se retirou para seu quarto e cismou em olhar pela janela. Via crianças cantarolando na rua. Um dia haveria ela de ter essa pureza em seu lar? Sim, ela queria...

Momento Filosófico (1)

Chuva caindo de baixo para cima e cachorro miando. Tudo pode mudar, menos a "policagem" no país tropical chamado Brasil - reino da macacada e  da bananada. A pizza vem de brinde.
Pois é!
Vocês nunca dançaram com ódio de verdade...





3 de nov. de 2009

É a vida! (9)

Linda era uma estudante de enfermagem extremamente dedicada e demasiadamente rica, filha de multimilionário. Na festa de aniversário de uma amiga, ela conheceu John. A partir daí surgiu uma relação muito afetuosa, ele querendo matá-la e ela o querendo muito bem. O dia em que John tentara trucidá-la foi o dia em que ela realmente se apaixonou por ele. Linda definitamente amou tudo aquilo que ele fazia, era uma benevolência para com aquilo que ela não conseguia explicar, o bom também era que dava para estudar anatomia o tempo inteiro.

Linda largou tudo. Faculdade, família e todo o resto. Pediu gentilmente para que John fizesse um trabalho artístico em seu doce lar, com o intuito de adquirir a herança da família. Agora John tinha uma admiradora, comparsa e amante, e algo mais importante que tudo isso - uma financiadora de sua arte.

As habilidades médicas de Linda não ajudaram muito. John começou a piorar, os ferimentos não saravam. Ele acreditava em sua vida eterna, mas infelizmente era de carne e osso. Linda deu um jeitinho, ela sempre resolvera os problemas que ele não solucionava. Contratou um mini-hostpital. Fez subornos extremamente altos e adicionou os envolvidos na lista de próximas vítimas.

- Sejamos cautelosos, todos haverão de morrer. Farei tudo quando estiver reabilitado! - disse John.

- Bobo, obviamente que sei disso! - disse Linda, sorrindo.

- Você não presta... - retrucou ele, apresentando alguma dificuldade de falar.

- Confiar no ser humano é suicídio! - disse ela, penteando seus cabelos vermelhos.

Era uma manhã quente com céu nublado, crianças brincando no parquinho enquanto mães se embonecavam em algum salão por perto.

2 de nov. de 2009

Vantagens Trabalhistas

O par de policiais entrou na padaria observando os produtos nas prateleiras.
- Sônia tá aí? - perguntou um deles.
- Ela já volta! - respondeu a moça da bancada, um pouco insegura.
O mais alto e mais novo dos policiais arrancou um pote de manteiga e um pacote de pão de forma da prateleira. O mais baixo, porém mais velho, pediu grosseiramente uma faca. Foram para o lado de fora, era cortesia da casa.

1 de nov. de 2009

É a vida! (8)

Catharine pensara que havia ganhado liberdade, pensamento em vão. A porta, super reforçada, estava trancada.

Linda chegou em casa e logo percebeu que algo estava errado. Sentiu o cheio de encrenca no ar e logo se preparou para o pior. Armou-se com uma faca de cozinha e começou a andar em direção à sala de estar.
- John? - disse ela, assustada.
Catharine pulou nela. Puxões de cabelo, tapas, arranhões e finalmente a facada decisiva. Linda deferiu um golpe mortal em Catharine. Esta cai no chão, agonizando, com a faca alojada no peito.
- John! O que fizeram contigo? - disse Linda, preocupada.
- Ficarei bem, ainda tenho muito o que viver, meu bem! - indagou John.
- Vamos para o Hospital, docinho? - disse Linda, com um sorriso irônico no rosto.
- Não brinca, amor! - retrucou John, dando uma gargalhada logo após.

Era uma manhã de domingo muito agradável. Sangue no chão da sala de estar e um corpo apodrecendo no tapete vermelho.