17 de ago. de 2010

Intermitente

Andando cabisbaixo e ouvindo passos. É uma moça à minha frente e eu já de olhos erguidos. Seus cotovelos ossudos e a cintura magra, quão magrela ela é.

Bate o vento e os cabelos dançam desordenadamente, finíssimos e lisos que são. O odor agradável logo me vem por perto, trazido pelo mesmo teimoso ventaval. Seria talvez perfume, creme para mãos ou shampoo; na verdade nem importa. O importante é o aroma irrevogavelmente incomum e encantador.

Certeza tenho de que ela nunca olhará para trás. A moça tem pressa, seus passos apressados. Eu a persigo, e não é de conhecimento dela. Todos os movimentos eu contemplo, e ela nunca olhará para trás. Nunca.

Não, nunca olhe. E se olhar, eu fingirei não a notar, envergonhado. Não estou bisbilhotando, é engano seu. Esbanjará uma cara interrogativa, e eu a mesma coisa.

Escuto passos, ainda é ela à minha frente. A sandália batendo no calcanhar, o calcanhar batendo na sandália. Ruído constante. Minto: ruído parece-me pejorativo. Chamarei isso de sinfonia, pois é agradável como o perfume trazido pelo vento.

Na Fernando Ferrari, os carros farfalham ruídos. E a sinfonia dos passos da moça às vezes se perde. A sandália batendo no calcanhar, o calcanhar batendo na sandália, carros buzinando, frenagens, arrancadas...Oh, céus!

Silêncio. Ela parou. Silêncio. Por ali ela ficou e meu rumo eu segui. Resta apenas a Fernando Ferrari. Oh, céus!