12 de dez. de 2009

Delírios em papel de pão



O homem é alimentado pelas sobras. Ele senta na pedra do centro de sua caverninha, olha a parede iluminada pelas brasas, as quais horas atrás eram uma tosca fogueirinha. É cômodo ficar ali sentado olhando aquelas formas relativamente simples, pouco detalhadas, às vezes difusas, mas ainda confortáveis. Virar para trás e enxegar a exuberância da realidade é quase um suicídio mental, enfrentar as feras da vida requer coragem e disciplina - é mais fácil contemplar as sombras e apreciar o ócio mental.



Mas o homem um dia tem que sair para caçar, morrer de fome não é algo desejável! Então, ele faz um ritual minucioso de preparação, ou não faz nada, para testar a sorte. O importante é passar o menor de tempo possível lá fora, o ambiente é ganancioso. Existem feras, precipícios, armadilhas e tribos inimigas à espera de uma vítima.


Vai o homem, reza para voltar. A fé é fé quando há necessidade de fé. Há necessidade de fé quando há medo. A maioria volta com a caça, o bastante para passar muito tempo contemplando as sombras. Uns são devorados pela realidade do lado de fora, outros aprendem a importância de conhecer o mundo exterior, vencem o medo e aprendem os vícios e alegrias proporcionados pelo mundo multicolorido da vida por trás das sombras.    

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