Utilizava uma cabeça de burro, o tempo todo. Não porque fosse dessa espécie. Queria passar-se por ignorante, animal estúpido e sempre falível. Carregava em suas costas o peso dos outros. Era burro, servia para esse fim. Concluiu então que burro é imprestável até certo ponto. Jogou a cabeça no lixo.
Jogou no lixo e arranjou outra. Uma cabeça de preguiça. Não porque fosse dessa espécie. Queria passar-se por lerdo, irritante e preguiçoso. Passou a ser incomodado por todo mundo. Por ser lerdo e irritante, era motivo para chacota. Concluiu então que ser preguiça é moralmente degradante. Novamente, cabeça no lixo.
Cabeça no lixo. E foi lá mesmo que encontrou a cabeça de porco. Não mais o intimidaram, menosprezaram, incomodaram. Assim, encontrou paz.
Ninguém gosta de porcos. Até a hora certa. Prato na mesa.
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