19 de dez. de 2010

(42) Café adoçado com vingança

Enquanto a maresia embaçava o vidro dos quartos, a música alta de qualquer festança enchia o ambiente. Música pouco ambiente. A mãe, destruída em sua condição materna, alisava carinhosamente a imagem do filho em um porta-retrato.

Longe dali, um mecânico chegara em casa com pressa, ferramentas banhadas em sangue e pedaços de pele. Largou a mochila no sofá, pegou uma cerveja e deitou na poltrona. Relaxou, colocando uma das mãos atrás do móvel.

Era tarde quando sentiu seus dedos desprenderem da mão. Recolheu o membro ensanguentado, gritou de dor e fúria. Procurou quem o atacou; em vão, pois já havia partido como astúcia.

Ao acordar, a mãe, com o retrato do filho em mãos, encontrou um café pouco convencional. Dedos em uma bandeja, e um bilhete feito com sopa de letrinhas.

"OS DEDOS DE QUEM TIROU A OPORTUNIDADE DE UMA MAE SER MAE"

Café da manhã macabro, café adoçado com vingança.

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