27 de out. de 2011

De cima a baixo e um sorriso

Elevadores são suntuosos e misteriosos ambientes quando se está sozinho. Proporcionam uma série de rituais, geralmente socialmente banidos ou sinônimos de deboche certo e muita criticidade.

Então, elevadores são lugares de dramaticidade. Muito mais que isso, de interação consigo mesmo e de experimentação. Mas, para propiciar tais aspectos, basta a sorte de uma viajem sozinho. Não se assuste com sua sessão de poses e estranhas, limpeza de lugares indevidos, sussurros de palavras em incentivo ao ego.

Inspeção de cima a baixo e uma penteada no cabelo. Essa é a sorte de estar sozinho. E, às vezes, uma flagra. A porta abre e na distração não se percebe o indivíduo estranho a contemplar você.

Mas o grave consiste na bendita câmera ali em cima. Alguém, em algum lugar e alguma hora, vai apreciar todas essas privacidades esdrúxulas. Comprará pipoca, coca-cola e vai enfileirar os vídeos dos últimos três meses. E em um longo feriado, sentará numa poltrona enrugada, gargalhando até dormir, saciado de entretenimento e de barriga cheia.

Sorria, você está sendo filmado. E quem ri por último é o indivíduo lhe verá em uma época posterior, às escuras.

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