14 de dez. de 2009

É a vida! (21)

Na mata molhada pelo orvalho estava a criança sorridente. Os passarinhos defecavam em seu rosto, porém a alegria do pequenino ser humano não era abalada pelo fedor surpreendente, talvez ele até apreciasse o sabor da titica.

Entre a densa mata da floresta surge uma nativa, atraída pelos berros de alegria do pequenino. Ataia carregava uma espécie de sacola feita com folhas de alguma árvore extremamente resistente, na sacola estavam dezenas de frutos os quais seriam para a celebração da noite, em sua aldeia. Ao avistar o motivo dos estridentes gritinhos infantis, Ataia largou o sacola e correu para amparar o bebê. Ele estava bem, forte e alegre, porém demasiadamente sujo.

- Quem é você, pequena criança?

A índia embrulhou a criança em seus seios robustos e se dirigiu para a aldeia, a sacola ficou por lá mesmo.

Curiosidade é algo curioso. Logo todos rodearam Ataia e o pequenino. Ele era branco demais, chamava atenção. Cabelos loiros e olhos verdes...

O Diferente pode trazer alegria ou desgraça.

Ataia deixou o bebê aos cuidados de outras índias e foi atrás de sua sacola. Achou-a e começou a examinar o local onde encontrara a criança. Encontrou uma bolsinha, talvez estivesse com o bebê. Guardou, poderia servir para algo em breve.

O bebê brincava perto de uma das cabanas, já bem limpinho e alimentado. Surge uma arara, linda e imponente em suas cores vivas e invejáveis. O bebê olhou, examinou, parecia tramar algo.

Ataia avistou o bebê de longe, em uma cena incomum.

- Larga o bichinho!

Nas mãos da frágil criança estava o pescoço do passarinho, torcido e dilacerado. O bebê estava vermelho, lambuzado pelo sangue do animal. Ele experimentou uma nova tonalidade de vermelho, entrou na moda indígena. Pintar-se por aqui é comum? - deveria ter pensado.

É a vida.

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