17 de dez. de 2009

É a vida! (22)

O feixe de luz atravessa imponente a penumbra da escuridão, mas sua força é mínima comparada ao poder das trevas que cobrem a noite na mata.

O tempo é rápido e sagaz, quando acordamos já se passou muito tempo. Anos passam como um barco em um rio turbulento. Tudo flui e um dia algo de interessante tem de acontecer, afinal a vida é feita de inconstâncias.

Apuã um dia fora um menino, agora é homem que possui hábitos estranhos. Calado, sanguinário e artista amador. Pintava nas árvores com sangue de lobo e tripas de jaguatirica. Loiro de olhos azuis, vivia no meio de um monte de índios. Nada lhe agradava aos olhos, nem tinha apego à sua mãe adotiva - Ataia. Um dia tudo mudou, pois chegara uma expedição estrangeira, com médicos estrangeiros. Surpresa! Desceu do bote a deusa: alta, branquela e com olhinhos azuis da cor do orvalho das folhas das árvores. Caminhou acompanhada de seu companheiro, também de estilo europeu. Era um casal bonito.

Logo os visitantes puseram-se a trabalhar. Apuã observava a médica, com muita atenção e olhar de fascinação. Nunca havia sentido tamanho fogo corroer o peito. Paisagem mais bonita que por-do-sol no riacho.

A médica correu em direção ao seu parceiro, também médico, e abraçou-lhe. Efetuaram um beijo apaixonado. Logo os olhos de Apuã enegreceram de ciúmes e decepção. Começara o despertar de sentimentos obscuros e maquiavélicos. Escuridão sem fim e depreciativa.

O filhote de jaguatirica vasculha o esconderijo em busca da mãe. Procura em vão e deita-se em um canto para chorar sua solidão.

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