3 de jan. de 2010

É a vida! (26)

Barulho de pancadas na porta. Daniela estranhou o fato, já era tarde e se preparava para dormir. Resolveu atender a porta, a curiosidade era grande e poderia ser mortal.

- Quem é e do que se trata? - disse ela.

- Preciso se ajuda, moça! Por favor, vamos conversar! - disse Apuã, em um tom doce.

Ele sentiu um calafrio que subiu a espinha, como se algo quisesse se manifestar em sua personalidade. Estava certo de que a situação estava crítica. Por que começara a saber de coisas que nunca havia visto antes?

Daniela era psicóloga e passou todos os últimos dez anos ajudando pessoas, não seria agora que ela o deixaria de fazer. Abriu com cautela a porta. Devagar, espiando pela brecha que se formava. Avistou um rapaz vestido com trajes indignas, sujo, mal cheiroso, bonito e com um charme sobrenatural.

- Moça, preciso saber o que dizem estes papéis!

Fascinada com o rapaz e com o intuito de ajuda-lo, ela deixou o garoto a vontade. Levou-o para o sofá, deu-lhe alimento. Depois foi ao que interessava, apesar de pensar em outra coisa extremamente carnal.

- Deixe-me ver os papéis, rapaz.

Daniela averiguou os pedaços de jornais, tratavam-se de notícias sobre um serial-killer muito famoso, que abalou o mundo vinte anos atrás. Falavam sobre seus atos macabros e fascinantes, sua arte particular. John era o nome dele.

A doutora explicou o assunto para o rapaz, que ouvia tudo cabisbaixo e com as mãos grudadas no rosto. Parecia que passava mal, ria às vezes, mas parecia sentir dor ou algo desse tipo, dor na alma.

- Você está bem? - perguntou ela, um pouco assustada.

- Nunca estive melhor! É a vida, doutora!

Olhou para a mulher como se não visse uma figura feminina há muito tempo. Começou a olhar fixamente e a movimentar levemente a cabeça no sentido anti-horário.

- Como acha que você ficaria toda cortadinha? - disse Apuã.

- Pare com isso, garoto! Você precisa de ajuda!

- Prazer, John.

Frio na barriga, olhar amedrontado e interrogativo, mão a agarrar uma caneta bic.

O gato observava a cena pela janela. Nada entendia. Talvez estivesse observando o peixinho dourado de Daniela, ou talvez olhasse para os ferozes olhos de Apuã. Apuã?

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