29 de jun. de 2010

Por baixo dos vestidos




O pai, senhor distinto, vestido socialmente, acompanha as duas filhas. Uma está à direita, a outra à esquerda. Ambas, de mãos dadas com o papai. Meninas de vestido, até um pouco abaixo do joelho. Algum tipo de controle do pai. Possuem faces rosadas e inocentes. Infantis, de certa maneira, mas já aparentam contemplar a adolescência.

Os rapazes passam bisbilhotando as duas. O pai olha tentando intimidar. Entretanto, rapazes mal intencionados não se intimidam facilmente. Mas papai segura a mão de cada uma de suas filhas, com carinho e firmeza. Ele não vai soltar nenhuma delas.

Elas sentem o desejo de experimentar. No tempo da promiscuidade, a inocência é ilusão. O senhor, pai distinto, vestindo socialmente, está iludido. Os rapazes passam, elas olham. Mas olhar não é pecado. O pior de tudo é imaginar o indevido. E o indevido da imaginação o pai não controla. Pois o que passa na mente das moças é inerente ao mundo delas e somente delas. O mundo em que um senhor, por mais distinto que seja, não pode invadir. Ele está iludido.

Daí, o escudo do pai caí. Pois a imaginação das meninas aflora e os rapazes olham. Eles olham, elas olham. A imaginação aflora. O escudo da proteção paterna cai e senhor distinto fica indefeso perante os olhares dirigidos às filhas. Mas ele ainda tem as amarras, suas mãos junto as delas. Papai não vai soltar a mão. Ele não vai. A imaginação voa, mas o corpo está devidamente amarrado.

Um dos rapazes passa a língua no lábio inferior, uma espécie de código. As meninas trocam olhares e sorriem entre si. Papai não é de escândalo, não há nada por fazer. O mínimo é sair dali, procurar um lugar distinto, para um senhor distando e moças supostamente distintas. Mas, antes disso, uma das meninas responde ao rapaz. Realiza uma mordida no lábio inferior. O pai segura as mãos um pouco forte. E resmunga uma oração.

O senhor, pai, distinto, vestido socialmente, deseja o caminho para o céu. As filhas nem tanto. A estrada para o inferno é mais prazerosa e requer menos trabalho. O caminho para o céu é um penoso celibato. É melhor antes casar, mas casar demora demais. O que fazer? Talvez se render aos olhares maliciosos e ir atrás de algo mais. Mas papai não vai soltar a mão. Filhas iludidas. O pai mais ainda. Pois a imaginação de adolescentes é um grande inferno. Porém, as amarras são fortes.

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