25 de jan. de 2010

É a vida! (33) - Por gentileza

O movimento sempre começa de fora para dentro. Primeiro vem o jornaleiro, ziguezagueando os canteiros, atencioso nas numerações das residências, arremessando o noticiário do dia passado. Pontaria má. Seria despedido naquela tarde graças à reclamações de assinantes que não tinham acesso aos seus jornais por estarem no telhado de suas casas ou nas árvores dos quintais da vizinhança.

Segundo o cachorro. Ele acorda sentindo a corrente de ar deixada pela bicicleta do jornaleiro. Preguiça demais para correr atrás. Deita-se novamente, sem adormecer. Observa os passarinhos e escuta atentamente a cantiga matinal das aves. Mais tarde, abocanharia uma delas e se deliciaria com as viceras.

Terceiro, John. Acorda calmamente. Checa a hora em seu relógio de pulso. Arruma a cama e abre as cortinas. Escolhe minuciosamente a roupa que usaria durante o dia, atentando-se se haveria alguma mancha ou amassado nos tecidos. Espia pela janela por um momento, mas logo volta ao armário.

Bárbara acordava junto, no quarto ao lado. Espiava ele pela brecha da porta. Pensava no porque de deixar um homem estranho morar com ela. Por que não chamou a polícia, gritou ou expulsou-o à tapas. Simplesmente sentia atração. Tratava-se de algo mágico, droga viciante. Talvez sentisse afeição por ele, talvez medo. Na verdade, estava contente em não estar morando mais sozinha.

Ele era como um predador astuto, dotado de um nectar fatal. Atraia a todos e depois...

- Bárbara, poderia aprontar meu lanche, por gentileza? - disse John, surpreendendo-a enquanto ela o espiava.

Ela desceu as escadas pronta para servir seu hospede. Tão educado. Sentiu vento em seu rosto e avistou a porta aberta. Olhou em volta ainda não totalmente assustada, agarrando firmemente um abajur de uma escrivaninha próxima, em um ato de defesa.

- Deixe isso ai madame! - disse alguém.

O homem com o revolver aproximava-se sem medo e ela se desesperava a cada passo do sujeito em sua direção. Não conseguia mover sua mão de tanto pânico. O homem percebeu e sorriu. "Essa vai ser moleza!".

Passos na escada.


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