3 de abr. de 2010

Nunca hei de dormir

É o inevitável. Acordarei em um dia assombroso, daqueles em que banho gelado não me despertará. Então perceberei que morri. Não encontrarei mais a expressão do amigo ao olhar e reconhecer um rosto conhecido, pois ele não notará uma presença que se foi. Verei os pesadelos rodearem os conhecidos, devorando os entes queridos. Pois no mundo que estarei tudo será possível, como se mergulhasse em minha própria imaginação e meus temores dominassem meu cambaleante auto-controle. Cambaleante como a vontade de confessar alguma coisa a alguém, ou de fazer algo proibido. Porém, a unica lei será de não poder abraçar sua amada princesa. Essa é sua unica atitude proibida. Dolorosa proibição.

Verei as sombras encarando minha face, estendendo a mão. Não poderei mais ficar no angustiante limiar e, mais cedo ou mais tarde, terei de partir, minha alma será limpa e de nada mais lembrarei. Talvez um  repugnante inseto fará bom proveito de alma tão cicatrizada. Quem sabe de nada servirá, transformará-se em sabão para limpar as demais almas.

A dor que vai se sobressair sempre será o fato de não poder abraçar sua amada princesa. Imaginá-la em um inverno de solidão, perdida em um mundo de homens selvagens, lobos que comem lobos.

Era melhor não ter acordado... Então nunca durma.

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