12 de mai. de 2010

(41) É a vida, pois a vida continua...

Onze e vinte da noite. 

Retornou. Cansara de toda aquela vidinha pouco agitada e mal paga. E o pior: sua alma havia amolecido. Era o que não podia aturar. Agora sentia-se fraco, desajeitado, sem mãos para fazer nada. Precisava matar, com ou sem mão. Nem que fosse com a boca ou com os pés. Pegaria uma faca enorme com sua boca, daquelas de cortar cana, e enfiaria no coração de alguém, impulsionado a arma com a força de sua língua.

Não haveria de dar certo. Sua língua era desprovida de tamanha força. As pernas talvez seriam uma solução viável. Sem chance. Era desengonçado demais com as pernas, seu talento concentrava-se em suas mãos. Mas ele não tinha mais mãos. Havia esquecido de como utilizá-las, de como atuar como um verdadeiro, destemido e infalível assassino. Assassino esse que já venceu a morte, que é comparado a deuses "olimpianos" e possui um saldo incomparável de mortes. Temido e procurado por qualquer entidade de segurança.

Onze e quarenta e nove. O Senhor Ferreira sobe as escadas de sua casa, com o objetivo de alcançar seu quarto para realizar o ato fisiológico de dormir. Tal senhor possui nome renomado, dotado de falcatruas em sua vida. Falcatruas essas desconhecidas por muitos, mas não para John. Seria uma morte justa.

Senhor Ferreira subindo as escadas e um vulto surge em sua frente, efetuando um grito estratégicamente aterrorizador. Assustado, dá um pulo pra trás. Não há chão, há o desnível do degrau. O senhor caí rolando, uma queda terrivelmente violenta. Quebra diversos ossos e morre de uma grave e dolorida hemorragia interna e externa. Sim, é algo sobrenatural.

John matou, e suas mãos sentiram que seu dono voltou a fazer o que ama. Agora respondem ao chamado do trabalho, o tão gratificante trabalho. A chamada arte singular de um serial-killer. Todos os segredos de mortes sensacionais e excitantes afloraram em sua mente. O show há muito tempo parado haveria de prosseguir.

E o sangue marcava na escada o local onde cada osso perfurou a pele, os órgãos, a vida do Ferreira. 

Onze e cinquenta e um.

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