13 de jan. de 2010

É a vida! (30) - Pose de Heroí

Precisava de um lugar para repousar, comer e se lavar. Chamava muita atenção pelas suas roupas encardidas de sangue ressecado pelo sol. Fedia bastante, como um mendigo. Não gostava disso. Estava disposto a invadir algum outro estabelecimento, depois pensaria em como trabalhar e alugar alguma moradia.

Andava nas ruas mais afastadas da via principal, observando as casas de classe média alta. Escolheria alguma casa, mas não sabia qual. Talvez ele sentisse o cheiro do que precisava para satisfazer seus desejos, apenas pelo olfato. Seria guiado por odores. Mas foi a vez da visão de alertá-lo de algo cômico.

A mulher de pijama se pendurava na varanda, atentava em pular do terceiro andar de sua casa. Embaixo, na trajetória de sua queda, ela havia armado diversos objetos pontiagudos, com o intuído de que a queda seria fatal.

- Vamos! Pule! O que você está esperando? Aguardo pelo seu show! - disse John, excitado. - Não resista, a dor é insuportável mas a morte vem breve - disse novamente.

- Você está se divertindo com isso? - disse a mulher que tinha o rosto encharcado de lágrimas.

- Sei que você não vai pular, senhorita. Pela cor do seu pijama, já bastante negro, você deve estar aí há mais de duas horas - disse Jhon. - Você não vai pular. Talvez eu deva subir e dar um "empurrãozinho"? - completou.

Ele era esperto. Extremamente observador. Havia passado por uma fábrica a qual cuspia na atmosfera fumaça com pó preto. Calculou quanto tempo demoraria para roupas brancas enegrecerem com o pó, pensou nas graduações de cores e no tempo relacionado, relacionou com a distância da fábrica. Impressionante.

Então a senhorita pulou, talvez por um gesto de raiva para com o estranho que não acreditava em sua força suicida. John acreditava em outra coisa, que aquela mulher ainda queria viver e teria uma vida espetacular pela frente. Talvez ele tenha se identificado com ela, de alguma forma peculiar. Então, em um movimento rápido e preciso, pulou e agarrou gentilmente a donzela em queda livre, acomodou-a em seus robustos braços, encostou sua face no toráx palpitante pelo esforço físico sobrenatural, caiu em frações de segundo com os pés no chão, longe dos objetos perfurantes, fazendo pose de heroí como em filme hollywoodiano, "sorrisinho" encantador.

- Se você tem de morrer, eu a matarei - disse o heroí, sorrindo.

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