11 de fev. de 2010

(39) Há mal para o bem

Resolvera trabalhar em um manicômio como voluntário. Todo dia acordava de madrugada e pegava o primeiro ônibus que passava na frente de sua casa. Vestia o uniforme branco com perfeição, de maneira que o tecido não se amassasse em nenhum movimento enquanto se aprontava.

- Doutor? Doutor cadê minha cadela doutor? Minha cadelinha... ela estava aqui... onde ela foi?

Era o paciente do quarto 207, o qual imaginava ter uma cadela de estimação que não existia. John olhou para ele e com um sorriso sereno pediu que o acompanha-se - ele mostraria onde estaria a cadelinha.

Subiram as escadas que davam acesso aos quartos individuais, aqueles os quais os pacientes eram isolados quando sofriam de alguma crise muito violenta. Eles caminharam até o fim do corredor, em passos lentos. O paciente do 207 olhando para os lados, inquieto e atento aos latidos de sua cadela.

- Menina... vem menina!

De frente ao último quarto individual, aquele que se localizava no final do corredor, o paciente 207 cismou em avistar a cadelinha dentro do quarto.

- É ela doutor... é ela! Deixe-me entrar... deixe-me entrar!

- Com prazer...

John sorriu, mas logo seu rosto ficou sério e sombrio, como costumava ser normalmente. Abriu a porta do quarto e empurrou o paciente com um pontapé nas costas. O paciente gritava alto, porém por ali ninguém passava aquela hora. Portanto, ninguém ficaria incomodado com berros altos e irritantes. Mas John estava farto.

- Doutor! Minha cadelinha não está aqui! Deixa eu ir atrás dela? Não a machuque, Doutor!

Outro pontapé, desta vez na porta. Fechou-se bruscamente. Paredes estofadas e à prova de som encobriam todo o ambiente.

- Sua cadelinha morreu quando você tinha dez anos, Gambit - disse John ao paciente 207. - Você gostaria de encontra-la novamente?

- Sim! Sim! Sim!

- Certo!

Esta noite o pessoal da limpeza teria trabalho ao limpar a sujeira do quanto individual localizado ao final do corredor no último andar do Manicômio Augusto Diniz.

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