8 de nov. de 2009

É a vida! (12)

O porão fedia mais que banheiro de posto de BR 101 abandonado. Cada dia chegava mais e mais matéria orgânica e naquele lugar mal cheiroso o artista concebia sua arte.

Era quase noite, o sol adormecia entre as nuvens do horizonte azul-celeste. A garota de cabelos vermelhos observava os navios cortarem o mar, deixando rastros de espuma. Deu uma olhada para as redondezas, constatou que só ela apreciava o entorno da ponte mais alta da cidade. Pensou no que sua vida se transformara graças a uma paixão por alguém que não a corresponderia algum dia. Pensou, repensou, não queria pensar mais. Olhou para baixo e teve uma idéia de desespero. Gritou para os moluscos nas pedras ponteagudas embaixo da ponte:

- Mamãe! Papai! O que eu fiz?

Subiu no balaústre e sentiu a corrente de ar passar em seu corpo, contornar sua silhueta, refrescar sua macia e demasiadamente esbranquiçada pele. Estendeu os braços para as laterais e inclinou a cabeça para cima, abriu a boca tentando engolir o vento, pensou nos seus objetivos e não concluiu nada. Uma moça rica apaixonada por um doido, uma tola caidinha por um asno.

- Mamãe, Papai...

Concluiu que errara durante toda sua vida, largara tudo por amar um assassino. Talvez fosse pior que ele?

Olhou para baixo e apreciou as pontas dos rochedos. Riu de si mesma e relenbrou os momentos com Jonh... Oh... John... Onde estaria? O que faria agora? Provavelmente trancado naquele porão com mais um cadáver...

Passou a mão em seu ventre, cheio de vida nova. Pularia? Sacrificaria duas vidas... uma a qual não teria a oportunidade de saborear a complexidade de viver.

- Filhinho...

Não muito longe dali, John cansou de trabalhar no cadáver e foi procurar Linda com o intuito de saborear a moça.

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