2 de dez. de 2009

Histórias reais são ficções plausíveis

Juca acordou cedo, como de costume, e logo foi ao encontro do vizinho para saber das novidades. Seu Raimundo sempre ia de madrugada à cidade levar suprimentos para a feirinha, saia de lá com todo tipo de novidade e oportunidades de bicos.

- Ôôô... Seu Raimundo!

Fez-se a comunicação, breve e perfeitamente compreendida. O convento precisava de manutenção em sua calha de alumínio, Juca faria o trabalho nesta mesma tarde.
Nosso amigo é um sujeito simpático, muito religioso, filho de pais demasiadamente católicos. Ficara honrado em poder prestar trabalho em favor do catolicismo.

Após o almoço, correu para a carroça e saiu em disparada para o trabalho. Lembrou o caminho para o convento, o qual percorreu muitos anos atrás com a mãe, quando fora visitar uma irmã que dedicava sua vida à Deus. Chegou cedo, conversou com padre Jucelino sobre o serviço, comprimentou as freiras que o olhavam assustadas das janelas barrocas, tomou água fresca do poço e preparou as ferramentas. A calha estava lá encima, muda e cinza.

Subiu e foi de encontro à antiga tubulação. Percebeu que estava entupida e pensou: "tenho que alertar ao padre para não jogar lixo nas tubulações". Pegou um instrumento tosco para desentupir parte da calha. Foi relativamente fácil, até o momento em que ele olhou para o entulho o qual obstruía a passagem da água extremamente escura.

Certos acontecimentos nos fazem desacreditar de coisas que norteiam severamente nossas vidas. Certas circunstâncias, que poderiam ser evitadas, nos entrelaçam com esses acontecimentos.

A água extremamente porca não era tão suja quanto o segredo que rondava aquelas paredes antigas do convento, na cidadezinha pacata de algum estado nordestino. Vestígios de nova vida eram enterrados na água suja da calha de alumínio, em um lugar que não era qualquer lugar. Pecados ocultos.

Juca tirou suas próprias conclusões. Eu também.

Juca não ficou muito satisfeito, e eu - já não sei em que acreditar.

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